terça-feira, 10 de junho de 2014

Cidades-sede: Custo das obras em Natal, em parte incompletas, chega a mais de R$ 1,2 bilhão

Cidades-sede: Custo das obras em Natal, em parte incompletas, chega a mais de R$ 1,2 bilhão Rio Grande do Norte conseguiu tirar do papel projetos como o novo terminal aeroviário, arena multiuso e complexo viário urbano

por RICARDO ARAÚJO  - O Globo

NATAL — Para um dos estados mais pobres do país, a Copa do Mundo vai além da paixão pelo futebol. A realização dos jogos se transformou, no Rio Grande do Norte, numa oportunidade de garimpar recursos e alavancar projetos que, há anos, dormiam nas gavetas do poder público. Em menos de três anos, Natal, que sediará quatro jogos da primeira fase do Mundial, viu serem erguidos um novo terminal aeroviário, uma arena multiuso e um complexo viário urbano, com investimentos de mais de R$ 1,2 bilhão.

A captação dos recursos foi um nó difícil de desatar. Não existiam projetos executivos para cada uma das obras pleiteadas, incluindo a do estádio — que inicialmente teria o formato de uma estrela, em alusão à Fortaleza dos Reis Magos. Foi preciso contratar empresas de engenharia e arquitetura para a confecção dos projetos. Os custos com tais contratos superaram os R$ 30 milhões. A maioria das plantas e planilhas apresentadas não serviu para coisa alguma. Foram justamente os problemas ocasionados pela demora na apresentação dos projetos que quase excluíram Natal dos jogos.

A insegurança jurídica e a incerteza da manutenção da capital potiguar como uma das 12 cidades-sede escolhidas pela Fifa refletiram na primeira licitação para a construção do novo estádio, a Arena das Dunas: nenhuma empresa se candidatou. Somente após conversas com o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, e com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, é que um novo procedimento licitatório foi aberto, e a concessionária OAS Coesa, a mesma que construiu a Arena Fonte Nova, em Salvador, apresentou proposta. Ao custo aproximado de R$ 400 milhões, o complexo multiuso foi construído no coração da capital, dividindo opiniões.

O alto custo do empreendimento, viabilizado através de uma Parceria Público-Privada (PPP), levou centenas de potiguares às ruas para protestar. Estima-se que, ao final dos 20 anos do contrato de concessão, o governo do estado tenha pagado ao consórcio administrador do estádio mais de R$ 1 bilhão. Os primeiros repasses mensais, no valor de R$ 9 milhões, começaram a ser feitos no início deste ano. Novos protestos já estão marcados para o dia 16 de junho, quando o vice-presidente norte-americano Joe Biden aterrissar em Natal. A expectativa dos manifestantes, a maioria ligada a partidos políticos opositores ao governo Dilma Rousseff, era que a presidente acompanhasse o colega norte-americano em sua passagem por Natal, mas a Casa Branca informou que o encontro entre os dois representantes acontecerá em Brasília, após o jogo entre as seleções dos Estados Unidos e de Gana.

Afora as polêmicas envolvendo o dispêndio do dinheiro público, a aproximação dos jogos mudou a cara da cidade. Os principais pontos turísticos e vias de acesso ao estádio e hotéis ganharam iluminação especial, painéis com as bandeiras das seleções que irão disputar jogos em Natal, letreiros com frases de boas-vindas em oito idiomas e decoração nas ruas para celebrar a chegada dos jogadores e turistas que passarão pela “noiva do sol”, apelido dado a Natal pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo. — Natal será mostrada para o mundo de uma forma muito positiva — afirmou o prefeito Carlos Eduardo. Para ele, o maior impacto da realização dos jogos em Natal será no turismo.

Atualmente, quase 90% dos hotéis de grande porte da cidade estão com as reservas fechadas para o período da Copa. Natal está entre as três cidades brasileiras com os maiores índices de ocupação de hotéis e pousadas. Cerca de oito mil japoneses, incluindo a princesa, virão conhecer a capital potiguar. O número de mexicanos poderá chegar a 10 mil.

A Secretaria Municipal de Turismo espera receber 170 mil turistas nos primeiros 15 dias de junho. Além do impacto positivo na economia, o maior legado da Copa será o das obras de mobilidade urbana. O Complexo Viário Dom Eugênio Salles, construído em tempo recorde, é composto por dois viadutos, seis túneis e duas passarelas. A infraestrutura foi construída ao redor da Arena das Dunas e causou, por oito meses, grandes transtornos aos moradores e comerciantes.

Um dos viadutos, localizado na lateral Sul do estádio, só ficará pronto no final de junho. A solução encontrada para esconder o esqueleto da obra foi cobri-lo com lonas com estampas alusivas à Copa do Mundo. Diferente do complexo viário urbano, o terminal aeroviário ficou pronto.

Ao custo de R$ 450 milhões, o Aeroporto Internacional Aluízio Alves é o primeiro empreendimento do gênero integralmente administrado pela iniciativa privada, incluindo a torre de controle. O complexo, no entanto, começou a operar sem atender as condições exigidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e sem receber voos internacionais por não ter o Ato de Alfandegamento, expedido pela Receita Federal.

Às vésperas da inauguração oficial, marcada para o dia 9, com a presença da presidente Dilma Rousseff — que cancelou o compromisso por causa de uma gripe — a Concessionária Inframerica sanou parte dos problemas, mas alguns ainda persistem. Caso o terminal não se adeque às normas impostas pela Anvisa, deixará de receber voos internacionais. Além disso, o Termo de Alfandegamento expedido pela Superintendência da Receita Federal no dia 5 de junho é válido apenas até setembro.

Herança.

Natal recebeu investimentos que superaram R$ 1,2 bilhão. A prefeitura, se contasse somente com recursos da arrecadação municipal, levaria quase uma década para injetar tamanho volume de recursos em obras de infraestrutura. Atrasos. A falta de projetos executivos com detalhamento das obras causou atraso no início das intervenções. Por conta disso, apenas um lote de obras será entregue até os jogos. O acesso Sul ao novo aeroporto não ficou pronto.

Despesas públicas.

Somente em consultorias técnicas, os governos estadual e municipal desembolsaram quase R$ 30 milhões. A maioria dos projetos contratados acabou sendo descartada

Nenhum comentário: