terça-feira, 14 de maio de 2013

Planalto abre balcão aos aliados e negocia com Eduardo Cunha a MP que dizia ser ‘inegociável’

Josias de Souza

Dos 82 deputados que integram a bancada federal do PMDB, apenas dois –os gaúchos Darcísio Perondi e Alceu Moreira— registraram presença na sessão extraordinária convocada para votar a MP dos Portos na noite passada. Dos 513 deputados com assento na Câmara, levaram seus nomes ao painel eletrônico escassos 253, quatro aquém do quórum mínimo de 257. Esvaziada, a sessão teve de ser encerrada pelo presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ele transferiu a votação para esta terça-feira (14).

O episódio escancarou duas evidências que desafiam, não é de hoje, o gigantismo da base congressual de Dilma Rousseff: 1) na contramão da música de Roberto Carlos, os pseudo-aliados da sucessora de Lula exclamam: como é grande o meu desamor por você!”; 2) o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), por quem Dilma nutre indisfarçável ojeriza, fala sério quando informa que inferniza o Planalto com o aval de sua bancada.

Os liderados de Eduardo Cunha só começaram a dar as caras depois que ficou patente que não haveria mais votação. Ainda assim, apenas seis formalizaram as presenças. Antes mesmo da consumação do fiasco, o Planalto viu-se compelido a abrir a caixa de ferramentas. A segunda-feira começou com a reiteração das ameaças veladas de retaliação. Ministros com filiação partidária foram instados por Gleisi Hoffmann (Casa Civil) a cobrar lealdade das respectivas tropas.

Outra ministra, Ideli Salvatti (Relações Instituicionais), atravessou a Praça dos Três Poderes com o balcão nas costas. Em conversas com os líderes supostamente aliados, acenou com mundos e, sobretudo, fundo$. Eduardo Cunha, o líder malquisto do PMDB, recusou-se a conversar com Ideli. E recebeu tratamento diferenciado. O vice-presidente Michel Temer, também do PMDB, chamou-o para uma conversa. Chamou também a ministra Gleisi, principal operadora de Dilma na medida provisória dos portos.Abre parênteses: a exemplo de Dilma, Gleisi está com Eduardo Cunha pelas tampas. Tachara de “irresponsável” a declaração do líder segundo a qual o governo privilegiou quatro grupos econômicos na MP dos Portos. Pois ali estava a ministra, negociando com o “irresponsável” pedaços do texto de uma MP que o Planalto dissera ser “inegociável.” Fecha parênteses.

Nessa primeira conversa, ocorrida no final da tarde, foram inventariadas as diferenças e delimitadas as perspectivas de ajustes no texto redigido pelo relator da MP dos Portos, senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Combinou-se um sengundo encontro para o final da noite, no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer.

Temer teve de fazer hora-extra. Seu expediente foi esticado até as primeiras horas da madrugada desta terça (14). Após ouvir opiniões dos liderados e de outras legendas governistas, Eduardo Cunha foi ao Jaburu. Dessa vez, seu interlocutor foi o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Na manhã desta terça, em novo encontro com Gleisi, o líder do PMDB vai tentar fechar um texto que possa chamar de nosso.

Os detalhes da negociação de Eduardo Cunha com o Planalto não foram, por ora, divulgados. Ao relatar aos amigos da Câmara os resultados de suas conversas palacianas, o líder do PMDB soou como se estivesse a caminho de celebrar um acordo. Política é isso, dizia ele. As duas partes cedem um pouco para que nenhuma perca tudo.

Um dos interlocutores do deputado resumiu a cena: se fosse no governo FHC ou na administração Lula, um acordo seria lucrativo para todo mundo. Sob Dilma, a mania do governo de impôr suas vontades na base do vai ou racha dificulta a equação. No caso da MP dos Portos, um par de vírgulas suprimido do texto oficial já dará ao governo a aparência de um derrotado.

O condomínio governista converteu a MP dos Portos numa omelete. Ao negar quórum na sessão noturna de segunda, os partidos quebraram os ovos. Com seus dois registros de presença, a turma do PMDB deu demonstrações de que considera divertido o barulhinho da casca quebrando. Aprovada na Câmara, como se espera, a MP seguirá para o Senado. Ali também a turma do crec-crec olha de esguelha para o Planalto. Se a MP não for aprovada até esta quinta, morre.

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