sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A democracia e a responsabilidade dos dirigentes

A democracia é boa e não apenas para pessoas específicas e determinados governantes; é boa para toda a nação e a sua vasta população. Em termos simples, para os governantes mais preocupados com os seus próprios interesses a democracia não só não é boa como, na verdade, é algo problemático, até mesmo má. Pensem bem. Num regime democrático os governantes têm de ser eleitos pelos cidadãos e precisam do apoio da maioria das pessoas; os seus poderes são controlados pelos cidadãos, não podem fazer o que entendem e precisam de reunir com o povo para negociar. Só estes dois pontos já deixam descontente muita gente. Os políticos democráticos não agem sozinhos, precisam dos cidadãos e dos agentes políticos que representam os interesses do povo para promover e implementar as suas políticas.

Decididamente, a democracia não é cem por cento perfeita, apresenta muitas deficiências internas. A democracia pode levar os cidadãos a sair à rua, a realizar manifestações e a provocar instabilidade política. A democracia oferece oportunidade ao aparecimento de políticos charlatães que só fazem promessas e iludem o povo. Mas de entre os sistemas já inventados e implementados, a democracia é aquele que apresenta menos falhas. O mesmo é dizer, em termos relativos, que a democracia é o melhor sistema político para a Humanidade.

A democracia é boa, mas tal não significa que a democracia consiga fazer tudo e resolver todos os problemas. A democracia é um sistema político que garante ao povo a titularidade da soberania, mas é apenas um dos muitos sistemas que as pessoas podem optar.

A democracia é boa, mas tal não significa que a democracia possa coagir as pessoas. Na sua definição mais precisa, a democracia é o governo pelo povo, o qual tem liberdade de escolha. Mesmo assim, a democracia é boa. Nenhuma pessoa ou organização pode considerar-se a si própria como a encarnação da democracia e obrigar as pessoas a fazer isto ou aquilo em nome da democracia.

A democracia requer clarividência, requer o primado da lei, requer autoridade e também requer violência para manter a ordem social instituída. Mas o desenvolvimento da democracia não deve passar por uma imposição coerciva por parte do Governo. O povo tem de dar o seu consentimento. Uma vez que a democracia é o governo pelo povo, ela deve respeitar as escolhas populares. Em termos de política nacional, se o Governo empregar meios coercivos para obrigar as pessoas a aceitar um sistema que não escolheram, então estaremos perante autocracia e tirania nacionais. Quando um país utiliza meios violentos para obrigar um povo estrangeiro a adoptar o seu sistema alegadamente democrático, estamos perante autocracia e tirania internacionais. A tirania, nacional ou internacional, é contrária à natureza da democracia.

Este ensaio foi extraído do prefácio do livro com o mesmo título e publicado no Beijing Daily News a 23 de Outubro de 2006 , autor, Yu Keping. Yu.

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