sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

SOB O IMPÉRIO DO VAZIO

Tentando não ser agressivo e, ao mesmo tempo, buscar não faltar com a realidade ou permanecer apenas em impressões, durante duas semanas, tirei tempo para escutar músicas, que são rodadas e tocadas nas rádios, para verificar o conteúdo e a mensagem que trariam. Decepção completa! As pessoas de minha idade foram influenciadas por letras de músicas e poesias que primavam pela riqueza de conteúdo, pela beleza da expressão, pela filosofia que estava à base, pela "leitura crítica" da realidade. Os artistas conseguiam captar o clima que se respirava na sociedade. Expressavam isso em letras ricas de conteúdo e músicas melodiosas. De certo modo, falavam aquilo que nós, sem vez nem voz, não conseguíamos dizer. Eles eram os alto-falantes dos nossos sentimentos de indignação, de protesto, mas também de alegria, de poesia, de esperança. Basta citar os textos de Chico Buarque, Geraldo Vandré, Elis Regina, Ferreira Gullar e tantos outros. Além de escutar músicas, tive ainda um "laboratório" do que existe hoje, quando nos bares e cigarreiras, carros com porta-malas abertos faziam um barulho incrível. Escutando (não havia jeito de não escutar, tal o volume do "ruído" e dos sons) que me dei por convencido e indignado, e disse para mim mesmo: "Estamos sob o "império do vazio". E, ainda, recordei-me de uma velha imagem, que um senhor muito idoso um dia usou para dizer-me algumas verdades sobre a vida. Disse-me ele: "Por exemplo: você toma dois tonéis. Deixe um vazio e o outro você enche de barro e pedras. Leve os dois ao alto de um morro e role-os morro abaixo. Qual dos dois fará mais barulho?". Respondi de imediato: "Aquele que estiver vazio". E ele continuou: "Pois, então: quando nós quisermos falar alguma coisa, temos de ter muito conteúdo. Do contrário, soaremos feito tonel vazio. Só barulho. O tonel cheio deixa marcas por onde passa. O vazio, não". Acho que eu entendi o que ele quis dizer. Quando atentamos, hoje, às expressões musicais, seguidas pela maioria, parece que há uma legião de "seguidores de tonéis vazios". Interessa somente barulho, movimento e não a qualidade do que se escuta. Fonte: O Mossoroense

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