quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Tropa de elite,
por Marcos AlvesMarcos Alves (*)

Tem um monte de gente boa por aí falando do filme, mas eu também vou meter o bedelho. Gostei. A realidade dos morros cariocas parece uma inesgotável fonte para cineastas contemporâneos de talento. O melhor de tudo é que “Tropa de elite” não repete “Cidade de Deus”, por ser sobre a polícia, e não os marginais.

“Tropa de elite” consegue, a meu ver, ser universal, múltiplo ao falar de um problema que atinge a todos os brasileiros. O filme mostra que com o narcotráfico não se brinca. Mostra, também, como está podre e viciado o sistema de Segurança Pública na cidade do Rio de Janeiro. E mostra como o dinheiro do comércio de drogas e armas comprou a polícia e o Judiciário, além de seduzir parte da classe média, em décadas de “movimento”.

A história é baseada no relato de um policial do Batalhão de Operações Especiais experiente, estressado, idealista e desesperançado, porém combativo e inconformado. O Bope é do Rio de Janeiro, mas só quem é muito alienado para desconhecer essa tragédia brasileira que é a relação de poder entre traficantes e policiais.

De arma na mão, eles são os donos do pedaço quando o assunto é droga e salve-se quem puder. No meio do tiroteio estamos nós, vítimas e às vezes cúmplices ou as duas coisas. A repressão – praticamente o único recurso usado até hoje para combater o problema – só alimenta essa guerra sem fim. E poucas são as discussões realmente profícuas nesse campo minado.

A Ong com sede na favela é formada por típicos jovens de classe média, chegados a um baseado e com um integrante que “passa o bagulho” na faculdade. Ou seja, quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?

O filme mexe, ou deveria mexer, com os brios de gente, como eu, você, seu filho, um amigo, está do lado de cá do balcão. Hipocrisia e omissão não resolvem a questão. Jogar a responsabilidade toda para cima da polícia também não. “Tropa de Elite” joga as cartas na mesa. Não há santo nem diabo, super-herói ou inimigo número 1 nessa história. Há um problema sério que precisa ser enfrentado com inteligência.
(*) Jornalista

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